domingo, 13 de abril de 2014

Da composição e da sede

Pude sentir a água nos meus pés, nas canelas, nas pernas até as panturrilhas.  De olhos fechados eu via toda aquela água, limpa e transparente. Eu via uma ou duas folhas verdes dançando a dança das águas. Eu ví aquela abelha na borda. O movimento dos meus pés gerava um movimento lá em baixo que subia e fazia bolhas na superfície. Ela refletia o céu e o chão. Uma vez alguém me disse que a água não tem cor, que ela reflete o que vê. Pude ver o vento quando ele criava forma na água e nas minhas pernas molhadas. Eu u vi quando soltei os cabelos, caídos nos ombros e eles foram junto com ele. Pus as mãos na água, fria, e passei nos cabelos e no rosto, descobri que a água também reflete o vento. Pensei em contar isso pra alguém. Mas. Eu vi refletidas ali as mãos, os braços, os cabelos, o tronco, mas não via o rosto, o rosto não, não conseguia ver, olhava com atenção mas o rosto me escapava. Na turbulência do vento, nas bolhas do pé.

Abro os olhos.

Eu vejo a piscina vazia, milhares e milhões e bilhões e incontáveis folhas no fundo. Alguns insetos mortos. Abelhas talvez. Eu vejo meus pés no ar. Solto os cabelos, que ficam caídos nos ombros, e só. O seco me molhou. A falta de água fora fez com que a minha água de dentro quisesse sair, pelos olhos, pela testa, pelos braços, pernas, pés, cabelos e sexo. Preciso dela, do seu reflexo, daquele rosto. Da calma que o molhado me trás. Sede. Acho que vou contar isso pra alguém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário