sábado, 17 de maio de 2014

No Embaço

Eu tava na casa da Céu e do Marco Polo. Ele e a Maria tinham descido pra comprar bebida. Preciso de outros amigos. Faltou luz. Os dois tinham saído há uns vinte minutos. Mas depois que a luz faltou eles demoraram ainda um bom tempo. Ficamos eu e Céu no escuro. Ela disse que ia catar uma lanterna. Emprestei meu celular pra ela ver por onde andava. Voltou com uma lanterna acesa. Devolveu meu celular. Ela perguntou se eu já tinha escutado Dirty Projectors. Eu falei que não. Ela disse que eles tinham um disco com a Bjork que era muito bom e que ia botar pra eu ouvir. Lembrei a ela que não tinha energia. Ela falou que tinha um disc man. Pensei caralho alguém ainda tem isso. Ela me botou pra ouvir. Beautiful Mother, que é a que ela mais gosta junto com uma outra aí, a penúltima. É meio bonita e meio bizarra: tem a ver com a Bjork mesmo, eu digo. Ela diz que não é música dela. Eu digo ah. Ela então põe a mão no meu joelho. Estamos sentadas, uma de frente pra outra e ela põe a mão no meu joelho. O polegar roça indo e vindo. Penso ih caralho. Estou olhando pra baixo. A música vai acabando. Ela me chama. Levanto a cabeça devagar. A lanterna está no lugar do seu rosto. Só vejo um clarãozinho que apaga seu rosto e me dói os olhos. Fico muda ainda que quase fale. O rumor do fone na base do pescoço. Ela não diz nada. É o polegar roçando, o silêncio, o rosto apagado e a dor nos olhos. Isso dura algum tempo. Ultrapassa o constrangimento e vira outra coisa. A luz volta, coisas estalam, sons voltam a vibrar. A cena de repente é ridícula e inofensiva. Eu rio. Ela ri com algum atraso. Apaga a lanterna e a deixa na cômoda. Maria e Marco Polo aparecem, com Smirnoff e suco. Ficaram presos no elevador. Marco faz alguma piada sugerindo que eles talvez tenham trepado no elevador. Maria o empurra rindo e diz ah para. Eu deixo claro que me interesso mais no disco que neles. Céu ainda ri de alguma coisa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário