terça-feira, 6 de maio de 2014

Am I Really Dying? (I)

CLOV_Me disseram, O amor é isso que você está vendo, isso mesmo, veja bem agora como (...) é fácil. Me disseram, A amizade é isso que você está vendo, nem mais, nem menos, não precisa continuar procurando. Me disseram, O lugar é aqui, pare, levante a cabeça e repare quanto esplendor. Quanta ordem! Me disseram, Vamos, você não é um animal, pense sobre essas coisas e vai ver como tudo ficará claro. E simples!(...)

Fim de Partida, Samuel Beckett

vi o Amor numa foto. Ideologicamente circunscrito sem Eros nu.

Contra o vidro ela fora vestido dela vivo escurecido da água da chuva a cor viva do vestido encharcada se rosa então agora tipo um rubro a água levando abaixo as cores do rosto, supõe-se uma beleza: qualquer coisa da ordem do vejam esta mulher incontrolável, catástrofe, cataclismo, erupção, depressão - isto porque do lado de cá, mais perto de quem está vendo, está este cara uma barba nada a ver bem vestido cara de: eu na realidade acho que não sei lidar com isso: não sei lidar com isso: quer dizer: com esta mulher - eu racional ela emotiva - aí você pensa peraí isso não faz nenhum sentido. não se aproximar não querer saber. caga na latinha sem dar na vista bem vestido o cara é bonito então ninguém liga pro que ele pensa ou pra que ele pense, contanto que em algum momento possam chupá-lo, comê-lo, etc.

A Laura Palmer disse “é tão terrível a facilidade que eu tenho em fazer os homens gostarem de mim” e Foster Wallace que é deprimente quando você descobre o quão uma pessoa que você admira é fácil de manipular.

E a vergonha de nela ter me visto umas vezes já: de eu já estive aí num desses lugares nisso que eu achava de certo modo lindo e algo levado por uma sensação amor: era isso amor: alguma música no fundo ou à frente e eu privada de ter que pensar a respeito do que fosse agora já nenhuma reflexão e somente isso. A merda é que na não reflexão deixava essa infecção ideológica adentrar: a ferida adensava alargava abria mais e eu numa boa ouvindo ou dizendo eu te amo ou variações um sistema econômico mundial integrador ao qual eu me punha indiferente pra poder dizer eu te amo em paz achando assim que também eu de certa forma fazia frente: indiferença fingida: o amor é seria de algum poder contra (o axioma de 67 dos Beatles é das coisas mais reacionárias que existem) mas que essa matança intrínseca a tudo esta carniça feita coração das coisas está no amor é amor um amor está em tudo está em inspirar expirar virar as costas é adorá-la como quem já a adorava adorará – a primeira e última concessão.

Estou cansada. Quanto mais nojo tenho dessas coisas é porque sei o quanto grudaram a mim. Podemos foder e discutir. Não é que será mais simples. É que o verbo ser será de mais difícil emprego. Terrível a beleza que não torce as vísceras. Tétrica a que é agradável.

Tenho quinze anos, dei primeiro há dois. Quem sabe tivesse me refreado, houvesse visto Beleza Roubada antes. Agora não me trinco tanto em ter que dar já. Antes urgia, mas não mais. O que rolar rolou e é isso aí. E se o Marco Polo entrar numa, ele que se foda. A Maria tá aí. Eu não.

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