Trabalho. Trabalho com drogas. Forneço maconha para pessoas
na Cantareira. O negócio com a maconha começou quando a galera, que filava um
pouco da minha, começou a perguntar onde eu comprava. De um pequeno grupo de
pessoas o negócio cresceu e hoje sou muito procurado na praça... principalmente
a galera do futebol, com quem bato uma pelada. A pelada é quase uma desculpa.
Chego, distribuo e “jogamos”. A parada de trabalhar assim é que negocio com
pessoas de todos os tipos. Tem as pessoas que gostam de você, as que compram
sem intimidades e as sem expressões. Tem as que não gostam de mim. Difícil
saber, mas existem. Não tenho ideia de quem seja. Uma vez, caminhando para
chegar na pelada rotineira, um “guardinha” desses que ficam coçando o rádio o
dia todo, me parou e com um empurrão me jogou para dentro da guarita. Não disse
nada, mas bateu muito, muito. A guarita era escura e tinha um buraco, onde
entrava a luz de fora e por onde eu vi ele passar. Sentado no chão percebi que
ele tinha esquecido o rádio. O buraco na parede era a certeza que ele não tinha
voltado. Baixei as calças e esporrei no rádio. Achei engraçado a ideia. Ele
colocaria o rádio no rosto.
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