segunda-feira, 17 de março de 2014

Eu fui criada por minha tia, uma mulher negra dos dentes brancos, muito brancos. Meu primo, filho de minha tia também cresceu comigo. Meu irmão. Negro dos dentes brancos, muito brancos. Um dia, quando tinha uns doze anos, cheguei em casa e fui ao banheiro, foi quando percebi que tinham me crescido pentelhos. Logo que sai de lá comentei com meu primo pois sempre contávamos tudo um pro outro. Terminei de falar e ele começou a rir de mim e foi logo contando para minha tia que era negra dos dentes brancos, muito brancos. Criou-se então um grande rebuliço e as chacotas de família começaram. Em uma tarde de almoço, a mulher negra com dentes brancos, muito brancos, que era minha tia, comentou em alto e bom tom para toda a mesa a novidade que tinha me acontecido. Daquele jeito que todas as tias, da cor e dos dentes que fossem, sabem fazer  - “Ela já é uma mociiiiinha!”. Fiquei muito envergonhada com a atenção de todos os dentes brancos direcionada a mim. Tive vontade de arrancar todos os pentelhos recém-nascidos. Era muito nova para fazer depilação e tinha ouvido também que o pelo engrossava e coçava quando se usa gilete, então acabei não fazendo nada a respeito. 3 anos depois, meu primo, negro dos dentes brancos, muito brancos, finalmente veio me contar que também tinha lhe crescido pentelhos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário